Friday, November 26, 2010

Greve geral ou palhaçada geral?

Efectuou-se no passado dia 24 uma Greve Geral. Um sucesso, segundo os sindicalistas, com pouco impacto, segundo o Governo. Sinceramente, estou-me a borrifar. Não fiz greve, pois considero que em nada beneficiaria o país, além de que prejudicaria a empresa que me paga, a qual sempre cumpriu com as suas obrigações para comigo.

Por outro lado, nunca aderirei a uma greve convocada pelos sindicatos actuais. Estes, na minha opinião, fazem parte do problema e não da solução. São na sua maioria pessoas filiadas nos partidos políticos, influenciados mais pelas ideologias do que pela real defesa dos trabalhadores. São pessoas que fazem do sindicalismo a sua forma de vida, sendo que muitos deles não exercem efectivamente uma profissão. Como poderão os trabalhadores serem defendidos por pessoas que não trabalham? Como poderá ser combatido o vampirismo que ataca a classe operária quando os seus representantes sindicais também sobrevivem à custa dele?

Se a intenção da greve era protestar contra as medidas de austeridade que foram anunciadas, não percebo, pois estas são necessárias. Injustas? Claro, pois quem nos arrastou para esta situação passará incólume às mesmas, o que já não sucederá com os mais necessitados. Mas o problema principal irá subsistir, pois todas estas medidas apenas servirão para anestesiar o monstro, não para o erradicar.

Só quando nos conseguirmos livrar de toda esta corja que nos suga, desde os políticos até aos sindicalistas, é que poderemos verdadeiramente deitar mãos à obra e colocar Portugal no caminho do desenvolvimento e da justiça social. Até lá? Vão-se fazendo greves e aprovando medidas de austeridade.

Tuesday, May 25, 2010

Onde nos levará esse caminho?

Ainda que timidamente, foi anunciada a criação da primeira célula viva com genoma sintético. Reconheço ser um leigo na matéria, mas o que isto tem por detrás é a criação de vida em laboratório a partir de substâncias sintéticas.

Claro que o anúncio vem acompanhado das imensas potencialidades que esta descoberta acarreta, todas elas benéficas para a raça humana. Infelizmente a história mostra-nos como mais cedo ou mais tarde existem aproveitamentos menos claros destes avanços científicos.

Sou completamente a favor do progresso e da ciência, mas tratando-se da criação de vida, algo em mim se arrepia. Socorrendo-me da mitologia grega, uma coisa foi Prometeu roubar o fogo aos deuses e ofertá-lo aos humanos, para garantir a sua sobrevivência. Outra coisa é os humanos já não se contentarem com a posse do fogo ou a fórmula do mesmo, pretendendo eles próprios serem deuses. E isso soa-me tremendamente errado.

Tuesday, May 11, 2010

Quo Vadis, Igreja Católica?

O Papa chega hoje a Portugal, no meio de um circo mediático e de medidas de segurança sem paralelo na nossa história.

Pouco me importa a visita em si, ou a mensagem que ele irá transmitir. O que me vem sim à cabeça é onde chegou uma Igreja que começou com o filho de um carpinteiro, teve como primeiro Papa um pedreiro e se limitava a uma simples mensagem, amar o próximo.

O que se vê agora? Uma sofisticação tremenda, cadeirões de pele com fios de ouro, tentativa de ocultar escândalos, comprando sempre que possível o silêncio das vítimas... esta não é certamente a Igreja com que Jesus sonhou, e não compreendo como tanta gente ainda se reconhece nela.

Friday, January 08, 2010

Nem mais nem menos

Cheguei a um ponto da minha vida em que constato ter poucos amigos. De tantas relações, de tantas amizades, de tantos contactos, são poucos os que subsistem, dos quais posso efectivamente dizer que me têm acompanhado nesta aventura que é a existência.

Feitio difícil, dizem uns. Intransigente, dizem outros. Verdadeiro, digo eu. Orgulho-me de, não importa perante quem ou perante que situação ser transparente e directo. Sei que esta forma de ser afasta muitas pessoas mas também sei que isso não me pode afectar para além deste desabafo. Quem lida comigo sabe sempre com o que pode contar, para o bem e para o mal. Se o que procuram é amizade de circunstância, personalidade distorcida para se adaptar aos gostos individuais, enganaram-se na porta. Se o que procuram é uma amizade honesta e sem subterfúgios, bem-vindos à minha vida.

Monday, December 21, 2009

Feliz Natal, Sr. Ventura

O Ventura é um velho, como tantos outros que povoam o nosso país. Oitenta e cinco anos de esforço, de dificuldades, de trabalho, que mesmo assim não lhe garantiram algo básico, como um tecto para viver.

O Ventura, tal como outros escorraçados da sociedade, não sabe onde vai passar o Natal, nem como o vai passar. Uma vida inteira de trabalho não lhe permite uma reforma digna, uma velhice sossegada. O Ventura vai ter de lutar até ao último fôlego, tendo feito da sua travessia pela vida uma imensa batalha, da qual não tirou qualquer glória ou espólio.

E o que faz o país do Ventura? Ocupa-se de temas verdadeiramente importantes, como o casamento entre homossexuais, os processos jurídicos intermináveis, o destino final de uma corrida de aviões. Tenho nojo de um país assim, em que os valores se encontram completamente distorcidos, para benefício de apenas alguns. Prevalece a cultura do compadrio, do favorecimento, da palmadinha nas costas.

Só espero que os Venturas te consigam perdoar tamanha indiferença, Portugal, pois eu não o farei.

Tuesday, October 20, 2009

Não quero seguir esse caminho

Tenho medo daquilo em que me estou aos poucos a transformar. Tenho medo de cada vez mais estar a ser engolido pela sociedade actual, renegando os valores que sempre me guiaram e dos quais sempre me orgulhei.

Um destes dias saí do emprego, para regressar a casa. Coloquei o MP3 nos ouvidos e preparei-me para me refugiar na música, pois a paciência para ouvir conversas banais há muito que se esgotou. Fui então abordado por um sem-abrigo, que me pediu algo para poder comer. Fixei-o nos olhos e abanei negativamente a cabeça, sem me deter. Quando estava prestes a entrar na boca do metro, parei, ainda com o olhar daquele homem no pensamento. Sim, daquele homem. Quem era eu para ignorar assim alguém que estava com fome? Como poderia levar para casa aquela súplica silenciosa, como se não tivesse sido nada?

Voltei atrás e despejei-lhe nas mãos todas as moedas que tinha, retirando-me antes que ele pudesse agradecer, pois eu não merecia tal gentileza. Mas a dor não passou, nem passará. O sem-abrigo continua lá, dependente de pessoas que parem para o ajudar, que reconheçam que ele existe. E tenho medo do dia em que seguirei em frente, pois isso significará que o verdadeiro proscrito pela sociedade serei eu...

Saturday, February 21, 2009

GRITA!!!

Saí de casa sem rumo, espelho da confusão que era agora a minha vida. Tinha mil pensamentos na cabeça, sendo o simples esforço de tentar ordená-los demasiado penoso.Como tinha deixado as coisas chegarem àquele ponto? Em que altura da vida tinha perdido a convicção que sempre me caracterizara? Logo eu, que sempre desprezei quem desaproveitava o dom da vida e fugia da forma mais cobarde aos problemas, estava agora a questionar-me se valeria a pena continuar.

Quase sem dar por isso estava estacionado junto ao Cabo Espichel, lugar onde desde sempre costumava ir para meditar. Estava sozinho, a tempestade que se começava a manifestar não convidava a passeios. Quem me tinha conduzido ali? A minha consciência ou algo superior, que me queria obrigar a tomar uma decisão?

O vento soprava agora com violência e começava a chover abundantemente. Mas não me sentia desconfortável, antes pelo contrário. A visão daquele mar poderoso, violento, incansável tinha-me aclarado a mente. Aproximei-me da beira, para melhor contemplar aquele espectáculo proporcionado pela natureza. Lentamente abri os braços, sentindo o vento a envolver-me. Olhei para cima, enfrentando a chuva que me fustigava a cara, cada gota sentida mais intensamente que a anterior.

Quem era eu para ter o direito de desistir, perante aquela manifestação de força? Consegues sentir o mar? O vento? A chuva? Eles nunca desistirão, eles são a natureza! GRITA-LHES! SENTE! TU ÉS A NATUREZA! VIVE-A!

O vento projectou-me para trás, fazendo-me cair de costas. Não sei quanto tempo fiquei ali no chão, imóvel, mas a sentir-me mais vivo do que nunca. Quando a tempestade começou a acalmar, levantei-me. A quem quer que me tenha levado ali, obrigado. Nunca esquecerei esta lição.

Sunday, November 16, 2008

Adeus, Mago

- Olá, amigo. Como te sentes hoje?

Nos últimos meses era aquele o meu ritual pela manhã, sentar-me ao pé do Mago, o meu companheiro de tantos anos, tentando dar-lhe um pouco do conforto que a doença teimava em não lhe permitir.

Não conseguia vê-lo como um cão, não quando havia tanto sentimento naquele olhar. Tinha perdido a conta os passeios que tínhamos dado, os abraços que tínhamos trocado, as brincadeiras que duravam horas. Mesmo os momentos em que ficávamos em silêncio, contemplando o pôr-do-sol, tinham contribuído para a criação de um laço tão forte entre nós que nunca poderia ser visto como a de uma simples relação homem / mascote. Não, ele era um amigo, que sempre esteve presente tanto nos bons como nos maus momentos. O seu olhar dizia mais do que muitas palavras, quem se atrevia a dizer que os cães não falavam?

Mas o Mago estava velho, assolado por todas aquelas doenças próprias duma idade avançada. Já não se levantava da sua cama junto à lareira, donde teimava em continuar a acompanhar toda a actividade da casa, sofrendo por não poder participar. Sentava-me ao lado dele e falávamos durante horas, relembrando aventuras e desventuras. Sempre que me levantava, ele tentava acompanhar-me, mas sem conseguir. Não sei o que mais o magoaria, o esforço da tentativa ou a frustração de não conseguir.

O estado dele piorava de dia para dia, levando-me cada vez mais a interiorizar a ideia de que ele não aguentaria muito mais, ou melhor, eu não aguentaria continuar a vê-lo assim. Uma manhã ganhei coragem e peguei no comprimido que o veterinário me tinha dado há três meses atrás. O egoísmo que me tinha impedido de aceitar a separação nessa altura era o mesmo que agora me impedia de o ver sofrer, mas que fazer? Um ser tão nobre não merecia continuar a viver assim, se é que aquilo se podia chamar viver.

Sentei-me a seu lado, colocando a sua cabeça no meu colo. Notava-se que as minhas festas lhe aliviavam a dor, tornando a sua respiração mais calma, menos sofrida. Por momentos os nossos olhares cruzaram-se... ele sabia o que eu ia fazer. Quando as minhas lágrimas começaram a cair, lambeu-me gentilmente a mão, como que dando o seu consentimento. Coloquei-lhe o adeus na boca e fiquei ali, sentindo o seu coração bater até ao fim.

- Perdoa-me, Mago, porque eu nunca me perdoarei...

Tuesday, October 28, 2008

Já não me importa

Diz-me abertamente, esperas algo de mim? Pensarás que estarei ainda destinado a grandes feitos? Ou para ti sou apenas mais um número, contabilizado nesse enorme balanço a que chamas humanidade?

Dói-me a alma, Sonho, por tanto querer e pouco conseguir. Dói-me o corpo, Vida, por tanto lutar e nada conquistar. Sinto-me um joguete nas mãos de quem não conheço, refém dos caprichos de quem reneguei. É esse o meu castigo, ficar eternamente na dúvida sobre o que poderia ter sido? Pobre de ti, que julgas assim punir-me. E pobre de mim, por já não me importar com tal destino.

Thursday, October 16, 2008

O céu não é o limite

Por vezes sinto que a minha esperança no futuro do mundo se esvai por completo. Basta folhear um jornal, onde numa página se relata que morrem centenas de crianças por dia por causas evitáveis, enquanto na página seguinte se descobre que num qualquer país árabe se vai construir um prédio com mais de um quilómetro de altura.

Não me restam dúvidas que o homem se preocupa em chegar ao céu antes de resolver os seus problemas em terra. E quando assim é, as bases que sustentam tais feitos são frágeis, e têm a ruína como destino final. Só espero que dos destroços surja uma nova geração que tenha as prioridades mais humanizadas, e que saiba que as asas se ganham com atitudes, não com metros de construção.