Monday, June 09, 2008

Para sempre - II

Era a cena perfeita, mãe e filho brincando no meio da relva, indiferentes a tudo e todos à sua volta. Quantas vezes já tinha presenciado aquele cenário? Quantas vezes mais iria presenciar? Ela sorridente, atenta a todos os gestos do filho, ele deliciado por ter ali a mãe, só para ele, como se o tempo tivesse parado, sem sentido. Para ele não havia horas, nem dias, nem anos, apenas uma deliciosa e perpétua brincadeira.

Não olhavam para ele, nem mesmo quando o seu rosto se encheu de lágrimas. Era sempre assim. Não suportava
mais ver e, no entanto, dia após dia ali estavam eles, a brincar como se nada fosse. Era como se o seu coração fosse esmagado, carregando consigo uma culpa desconhecida.

De repente ela levantou-se e caminhou na sua direcção. Como era linda, em todos os pormenores, desde o sorriso até à forma de andar. Chegou ao pé dele, com um sorriso triste e preocupado, pegando-lhe suavemente na mão:
- Meu amor, isto está a matar-te. Peço-te, deixa-nos ir. Tinhas-me prometido que era a última vez...
Ele abraçou-a, com toda a força que tinha, gritando-lhe:
- Não consigo!

Foi então que acordou. Estava sozinho no quarto, tendo por única companhia aquele Deus em que já não acreditava. Já tinham passado mais de 5 anos desde que tinha perdido a sua família, naquele desastre de avião, mas não havia um só dia em que o seu pensamento não os encontrasse. Tudo o torturava, o não lhe ter dado mais um beijo, o não ter tocado no cabelo do filho uma vez mais, o continuar sem perceber o porquê de lhe ter sido arrancado tão brutalmente tudo aquilo por que alguma vez sentiu amor.

Amor... que ironia. Era precisamente esse o motivo apontado na carta de despedida do louco que fez explodir o avião onde mãe e filho viajavam. Que amor? Que Deus? Que vida lhe restava? Voltou a deitar-se, tentando voltar a vê-los. Uma vez mais...

1 comment:

Ka said...

xiça que este texto dói....

Beijinho Rafael